Se em um paciente sadio, a higiene bucal merece atenção, no caso de pacientes debilitados, internados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o acompanhamento odontológico deveria ser, na opinião dos profissionais, indispensável. Isso porque quando a saúde bucal não está em harmonia, as bactérias e fungos naturais dessa região podem se proliferar e atingir outros órgãos.

Hoje, alguns hospitais de Goiás já possuem a figura do cirurgião-dentista em suas UTIs. A periodontista Maria Mônica Barbosa Caixeta, coordenadora da Seção de Odontologia Hospitalar do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), ressalta a importância da presença deste profissional nos hospitais de alta complexidade. “Estudos já comprovaram que é necessário um atendimento integrado de diversas áreas para garantir uma melhora no quadro geral do paciente, que na maioria das vezes está inconsciente e depende desses cuidados específicos”.

O Hugo foi o primeiro hospital público do Estado a incorporar o cirurgião-dentista em sua equipe de cuidados intensivos. Desde 2009 oferece a visita diária dos profissionais, que além de auxiliarem na limpeza oral mais complexa, também realizam outros procedimentos para minimizar o desconforto e os riscos aos pacientes, como remoção de dentes comprometidos e de aparelhos ortodônticos e próteses. Em 2013, foram 9.530 visitas aos leitos de UTI, onde foram realizados mais de 10 mil procedimentos.

“Além da remoção dos focos de infecção, como a remoção da placa bacteriana, o atendimento odontológico intensivo também deve buscar o alívio da dor e do desconforto na boca, prevenindo acidentes relacionados a cavidade bucal, principalmente em pacientes com ventilação mecânica, em que o tubo pode causar ferimentos e a higiene fica ainda mais complicada”, explica.

Benefícios
Maria Mônica afirma que o serviço de odontologia pode diminuir o tempo das internações, reduzir custos hospitalares e evitar a mortalidade por infecções na UTI. “Além de causar problemas bucais, estes microrganismos podem facilitar outras infecções e doenças sistêmicas, principalmente as respiratórias, já que eles são aspirados e chegam ao pulmão. A pneumonia, por exemplo, é responsável por 30% das mortes neste ambiente”.

A fonointesivista e chefe da equipe multidisciplinar da UTI do Hospital Amparo, Ana Maria Miranda, diz que mesmo sem a cobertura dos planos de saúde, a presença do cirurgião-dentista na UTI já é vista pelo hospital, que conta com o serviço há 3 anos e é o pioneiro entre os particulares do Estado, como investimento essencial para a prevenção de infecções e para o atendimento humanizado do paciente. “Mesmo desconhecendo a função do cirurgião-dentista na UTI, os familiares percebem os benefícios ao paciente. Já são tantos os desconfortos e dores causados pelos traumas ou doenças, que não podemos deixar que a falta de cuidado com a higiene oral ou com a manutenção da ventilação mecânica venham somar de forma negativa”.

Para Ana Maria, o cuidado com a saúde bucal deixou de ser uma simples preocupação estética ou processo patológico local para se tornar um fator determinante na saúde e na qualidade de vida do indivíduo.

Resistência por parte de outros profissionais
De acordo com a periodontista Maria Mônica, a inclusão do cirurgião-dentista no quadro multiprofissional do Hugo teve uma certa resistência dos outros profissionais. “Há muito estudo, mas não há muita prática. No início, as técnicas de enfermagem, por exemplo, pensavam que estávamos desmerecendo a higiene bucal feita por elas, mas quando passamos a orientar, a realizar novos procedimentos, além desse serviço, houve o reconhecimento”.

Para a periodontista, os hospitais demoraram a criar a atenção, mas um projeto de lei (2.776/2008), que já tramita no Senado, deve garantir a presença do cirurgião-dentista nas UTIs. O texto aprovado ano passado na Câmara dos Deputados assegura a assistência odontológica a todos os pacientes em regime de internação hospitalar, aos atendidos em casa na modalidade “home care” e aos doentes crônicos, mesmo que não estejam internados. Pelo substitutivo, apenas os hospitais de médio e grande porte deverão cumprir a regra. De acordo com a proposta original, as clínicas, públicas ou privadas, também deveriam manter profissionais de odontologia à disposição dos pacientes.

Fonte: Jornal O Popular de 06/03/2014 (Repórter Janda Nayara)

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