A odontologia brasileira vive um paradoxo. Temos uma das melhores odontologias do mundo, com alta produção científica, nível técnico indiscutível, alto índice de especialistas, emprego de tecnologia de ponta, sem contar o elevado número de profissionais, que ultrapassa 250 mil no País. Pesquisa recente encomendada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) revelou que os brasileiros dão nota 9 para o atendimento recebido do cirurgião-dentista.
E, na outra ponta,70% da população necessita de algum tipo de prótese dentária. Isso quer dizer que esse ser humano já perdeu pelo menos um elemento dental. Se fizermos uma entrevista com a população, menos de 35% vai falar que precisa de algum tratamento dentário. Sinal de que a população ainda é pouco informada sobre o que a odontologia pode fazer por ela. Precisamos debater e encontrar uma forma de aproveitar todo esse aparato de profissionais e consultórios já instalados para corrigir essas distorções.
É bem verdade que já evoluímos muito nos últimos 12 anos, desde a implantação do programa Brasil Sorridente. Muito tem sido feito pelos governos na tentativa de resgatar essa dívida social com o nosso povo, mas é preciso e é possível avançar. Temos que discutir o acesso da população a esses serviços e também discutir a lista de procedimentos ofertados. Não podemos mais atuar de forma empírica. Essa não é mais nossa realidade.
Nesse aspecto, dois pontos são fundamentais: organização da carreira e organização dos serviços. É inimaginável que, no terceiro milênio, diante de tanta riqueza que este País produz, não consigamos garantir aos nossos profissionais um mínimo de dignidade, que são os exames complementares para definir diagnóstico. Essa é uma luta que devemos estar todos imbuídos em defender.
Na organização da carreira, tivemos um ganho recentemente: a conquista do plano de carreira e remuneração do Estado. Estamos equiparados com os nossos colegas médicos e, agora, essa é nossa meta também para os municípios. Mas aqui temos outro paradoxo. O nível de precarização do trabalho no setor público chega à beira do absurdo. É importante que o governo federal e os governos estaduais coloquem como critérios para a pactuação das equipes e os respectivos repasses financeiros a exigência da comprovação do vínculo empregatício estável, seja ele CLT ou estatutário.
Além destas, temos muitas outras bandeiras pelas quais lutar: melhorias nas tabelas e na relação com as operadoras de saúde, vários projetos de lei que interferem diretamente na oferta e na relação da odontologia com a sociedade, como odontologia do trabalho, odontologia hospitalar, redução de impostos de importação e sobre equipamentos, o piso salarial, entre outros.
Neste dia em especial, 25 de outubro, data em que se comemora o Dia do Dentista, quero parabenizar todos os profissionais que lutam por uma odontologia melhor. Profissionais valorosos que em muito têm contribuído para o engrandecimento e valorização dessa área. Agradeçamos a todos os profissionais das equipes de saúde bucal que ajudam a multiplicar sorrisos e felicidades.
Parabéns, cirurgião-dentista!
*Jean-Jacques Rodrigues é presidente do Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CROGO) e diretor do Soego.
(Este artigo foi publicado no último dia 25 de outubro de 2014, no Jornal O Popular).