O IX Enacom (Encontro Nacional da Comunicação), realizado em São Paulo, discutiu a internet e o papel das mídias digitais a serviço da luta. Para quem integrou a mesa, a construção de uma contra narrativa passa, obrigatoriamente por mudanças no perfil da comunicação sindical.

Para o jornalista e professor Renato Rovai os sindicatos exercem papel fundamental num mundo em que os meios de comunicação deixaram de ser coadjuvantes para virarem protagonistas do golpe.

Esse trabalho, porém, passa por uma avaliação de qual a melhor linguagem e conteúdo para chegar às bases.

“Precisamos da comunicação sindical para disputar opinião, ideologia e rumos, para dentro e fora das categorias. Muitas vezes o problema é de formação, trabalhador acha que é patrão. Observamos categorias como os bancários em que muitos gerentes menos graduados se identificam mais com os bancos do que com os trabalhadores”, explica.

Quem lê, vê e ouve
Já a comunicação interna ainda tem muito de ‘achismo’, ressaltou. “Trabalha-se por intuição, por ouvir dizer, sindicatos não fazem pesquisa para entender hábitos de comunicação das categorias. Quando fala para fora, tem que pensar discurso porque muitas vezes usa uma linguagem como se falasse somente para própria categoria.”

O papel de buscar uma saída para além da pregação aos convertidos, aponta, passa pelo financiamento dos sindicatos à comunicação popular.

“Tem que construir o financiamento de veículos alternativos. Como abrir estúdio de gravação nos sindicatos para colocar uma webrádio na cidade. Se sindicatos não estiverem receptivos a isso, corremos o risco não só de sermos derrotados na disputa das redes nas eleições para Executivo e Legislativo, mas também para os sindicatos.”

Veículos e portal
Com a miríade de coletivos que surgiram a partir da percepção que não era possível confiar na mídia tradicional e resolveram contar a própria história, a representante da Rede Jornalistas Livres Laura Capriglione defendeu a construção de um grande portal da imprensa independente para, de fato, promover a contra narrativa.

“Alternativa é se organizar num grande portal da imprensa independente em que cada veículo possa continuar a publicar o que quiser, vendendo anúncio para quem quiser, sem perder a identidade”, apontou.

Para ela, é preciso que as organizações de esquerda entendam o risco de ter todas as ações de comunicação ancoradas nas redes sociais e a necessidade de construir plataformas próprias.

“As redes sociais são dominadas por pessoas sobre as quais não temos nenhuma ascendência. Até quando Mark Zuckerberg vai ceder seu negócio para nós fazermos nossa revolução? Quando quiser, Facebook pode nos desligar e acabar com nossa história na rede. Ou encaramos tarefa de construir nova rede, nova referência em termos de internet, aproveitando momento em que estamos ligados no que estamos falando, ou perdemos o bonde da história.”

Laura acredita que o momento é muito favorável para mostrar à sociedade que Temer não é apenas o inimigo dos trabalhadores no ataque a direitos, à Previdência ou à terceirização, mas num amplo aspecto. “O Temer é inimigo da arte, de todos os produtores culturais, do negro, da mulher, do LGBT, da periferia e nossa reação será tão forte quanto o ataque a partir do momento em que conseguirmos cruzar todas essas forças” disse.

Linguagem política
Para o jornalista do PT-SP, Aparecido Silva, o Cidão, a falta de comunicação entre o governo federal, o partido e a população é um bom exemplo de como um diálogo deficiente pode prejudicar uma gestão.

“Apesar de investimentos em saúde e educação do governo federal ser muito maior, em muitos lugares, especialmente, cidades com menos 30 mil habitantes no país, quando ia entregar o equipamento não tinha um único representante do governo federal. Quem entregava era governador ou deputado tucano”, falou.

O investimento no setor inclui, na visão de Cidão, olhar para dentro das próprias instituições. “Nós tínhamos uma agência que levava milhões quando ao menos em sete diretórios não havia dinheiro para dizer o que partido estava fazendo.”

Empoderar quem faz
Representante do Coletivo Mídia Ninja Rafael Vilela defende ainda que os grupos historicamente marginalizados não querem mais ser o tema dos textos, mas protagonistas da produção.

“Os movimentos LGBT, de negros, mulheres são os que vão para rua defender Dilma, mas estão ausentes na elaboração das políticas sociais. Falar em aborto, genocídio, extermínio da juventude negra ainda é complicado, ao mesmo tempo em que esses grupos surgem como maiores forças sociais brasileiras. Que não devem ser só narradas, mas empoderadas, serem protagonistas”, definiu.

Vilela foi mais um a falar sobre as possibilidades que o momento oferece e não devem passar em branco, como ocorreu nos governos populares dos últimos 13 anos.

“A Mídia ninja é o efeito colateral da ausência quase total de políticas de comunicação nos últimos 13 anos. Tivemos em determinado momento possibilidade do ciclo progressista avançar nesse tema e tivemos pé atrás que não permitiu ousadia. O que governo acreditou que a Globo, a partir das verbas estatais, poderia ser a rede que faria a ponte entre o governo e a população e isso não aconteceu.”

Fonte: CUT

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